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Juiz de Santa Maria ouviu em Horizontina sobrevivente da Boate Kiss

Terça-Feira, 29.10.2013 às 11h46
juiz lousada

 

 

Charles Weschenfelder, natural de Santo Cristo, mas que reside e trabalha em Horizontina, sobrevivente da tragédia da Boate Kiss de Santa Maria foi ouvido na condição de testemunha na manhã desta terça-feira(29) no Fórum de Horizontina.

 

         As audiências, que começaram em junho, fazem parte do processo criminal contra os dois sócios da boate Kiss e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira. O juiz que cuida do caso, Ulisses Fonseca Louzada e a defesa dos réus estiveram presentes, bem como um dos acusados. A oitiva foi assistida pela Promotora de Justiça Bruna Borgmann.

 

         O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 243 mortes. O fogo teve início durante apresentação da banda Gurizada Fandangueira. Um de seus integrantes fazia uso de artefato pirotécnico no palco.

 

O inquérito policial indiciou 16 pessoas criminalmente e responsabilizou outras 12. Já o MP denunciou oito pessoas, sendo quatro por homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho.

 

A Justiça aceitou a denúncia. Com isso, os envolvidos no caso viraram réus. Dois proprietários da casa noturna e dois integrantes da banda chegaram a ser presos nos dias seguintes à tragédia, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro no final de maio.

 

A INVESTIGAÇÃO JUDICIAL CRIMINAL

O juiz da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, Ulysses Fonseca Louzada, magistrado responsável por mais de 3 mil processos criminais daquela comerca,  destaca que as oitivas que envolvem o processo da Kiss estão sendo feitas em bloco, primeiro as vítimas e posteriormente as testemunhas de acusação e defesa. Tais oitivas estão quase finalizadas, e além de Horizontina, foram realizadas em Frederico Wesphalem e Passo Fundo. Pelo menos 90 pessoas serão ouvidas somadas todas as partes.

 

O processo é complexo e o magistrado não prevê prazos para seu julgamento. –“ Ouvir essas pessoas que estiveram no palco dos acontecimentos é fundamental. Elas vem nos trazer o que viram, o que sentiram, a forma como saíram do ambiente, e todas as informações são importantes, para depois contextualizarmos e oferecermos respostas”, disse.

 

Fonseca Louzada afirmou que está dando celeridade ao caso, mas sem atropelar. Precisamos ser concretos e efetivos para que no final, tanto o MP, quanto a defesa possam, dentro do que pretendem fazer trabalhar , agir à saciedade. O processo penal hoje é dialético, é de partes, de contraditório e essa seria sua missão.

 

A COMOÇÃO DA SOCIEDADE

O juiz Fonseca Louzada, que cuida de três mil processos na sua vara criminal, diz que tem se empenhado neste, assim como nos demais processo criminais que está à frente. Procura fazer o melhor e busca dar a melhor resposta, àquela que não prejudique nem os réus, nem as defesas, cumprir a constituição federal e todos os direitos individuais às vítimas e aos acusados. Esperamos caminhar sempre com serenidade.

 

DEPOIMENTO

No depoimento, Weschenfelder deu detalhes da fatídica madrugada. Ele viu a música parar e avistou uma nuvem de fumaça sobre o palco, com forte odor, como se estivesse queimando plástico. Viu igualmente alguém tomar um extintor de incêndio e o mesmo não funcionar. Nesse momento decidiu sair do local em meio à gritaria e tumulto. A visibilidade inexistia, e a fumaça invadiu rapidamente o ambiente.

 

Com muito esforço e resistindo até o limite sem respirar, o jovem engenheiro conseguiu atingir a porta do estabelecimento. Quem vinha logo atrás não teria tido a mesma sorte, pois ela acabou se fechando por alguns instantes, e depois forçada em sua reabertura.

 

Da rua auxiliou no que pode as equipes de resgate que começavam a chegar no local e chocado acompanhou a retirada dos primeiros corpos já sem vida, além dos feridos. Contou ao juiz Fonseca Louzada da luta de civis para tentar quebrar as paredes, que ajudou a demover obstáculos como uma barra de ferro que separava o ambiente dedicado aos fumantes e um painel de madeira da lateral da boate, permitindo acesso das equipes de bombeiros, médicos e enfermagem.

 

O jovem inalou fumaça e chegou a ser internado. Disse que por alguns dias ficou muito revoltado com tudo o que aconteceu, mas pensa que psicologicamente superou o difícil momento. Charles perdeu um colega, conterrâneo que estava com ele na casa de shows.

 

O santocristense radicado em Horizontina frequentou por quatro anos o ambiente da Kiss enquanto estudava Engenharia Mecânica da UFSM. Na noite da tragédia, na sua opinião pelo menos mil pessoas estariam no interior da casa noturna.

 

INQUÉRITO POLICIAL

As conclusões da investigação policial apontaram:

- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco

- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo

- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou

- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás

- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas

- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular

- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas

- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída

- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência

- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário

- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.


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